“Adorei acompanhar a sua viagem, até fiquei com vontade de ir, mas não sei se é pra mim!”. Muitas pessoas me disseram isso (tanto pessoalmente quanto nas redes sociais) desde que comecei a escrever sobre o Kilimanjaro. Decidi escrever um post para esclarecer algumas dúvidas, já que eu mesma pensava que essa viagem não era do meu estilo há alguns anos.
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Vou listar aqui os motivos que me fizeram adiar a viagem e explicar como foi realmente. O famoso “expectativa x realidade”, que talvez te ajude a tomar uma decisão ou simplesmente relaxar e planejar algo diferente. Afinal, nada mais desagradável do que alguém te dizendo que “tem que fazer isso” ou “tem que conhecer tal lugar”. Eu discordo completamente. Prefiro explorar o mundo no meu ritmo, e como o tempo e o dinheiro são limitados, é importante ter certeza de que realmente gostamos de algo, certo?
No entanto, vamos aos motivos:
Banheiro
Coloquei isso em primeiro lugar por um motivo. Era a minha maior preocupação, mais do que ficar sem tomar banho. Eu sabia que haveria um banheiro portátil, mas nunca temos certeza de como é a situação antes de vermos com nossos próprios olhos, não é mesmo? Como mencionei no post sobre a estrutura do acampamento, o banheiro “oficial” – com a privada portátil de “fundo falso” dentro de tendas individuais – é bom apenas quando está limpo no acampamento. Com o passar dos dias, fica tudo acumulado lá no fundo e a situação fica desagradável. Ao longo dos dias, comecei a preferir usar a fossa séptica que também estava em todos os acampamentos, um pouco mais afastada das barracas. A fossa é compartilhada, ou seja, se houver outras expedições no mesmo acampamento, elas também podem utilizá-la. A vantagem é que na fossa o local para onde vão as necessidades é bem maior e está mais afastado. Há um odor também, mas basta colocar um pouco de vick vaporub nas narinas antes de entrar. A fossa é um buraco no chão, então é preciso ficar de cócoras (o que é até mais confortável). Outra opção, é claro, é o mato. Nas proximidades do acampamento, é possível fazer xixi tranquilamente (mas não é permitido fazer número 2 – pode ser feito na trilha, mas não perto das barracas). Mais para o final da expedição, todo mundo já estava acostumado a encontrar um lugar escondido para fazer xixi (e, honestamente, ninguém se importa. Todos estão na mesma situação, todo mundo precisa fazer xixi e cocô, ninguém vai ficar te observando).
- Expectativa: achava que iria usar o banheiro portátil o tempo todo
- Realidade: usei apenas no primeiro dia, nos outros dias só quando chegava no acampamento. Preferi a fossa e o mato!

Banho
Estávamos em uma expedição de 7 dias, sendo que no sétimo dia seria a chegada no hotel. Portanto, 6 dias sem tomar banho. No terceiro e quarto dia da expedição, quando ficamos duas noites no mesmo acampamento para aclimatação, havia a opção de tomar um banho com uma caneca (com água quente e tudo), mas sei que isso não é comum entre as agências que oferecem viagens ao Kili. Para ser sincera, para mim isso não fez muita diferença. Todas as noites eu fazia uma “limpeza” dentro da barraca com lenços umedecidos. Além disso, tínhamos água quente em uma bacia todas as manhãs para lavar o rosto (e sempre havia água quente para lavar as mãos). Eu levei shampoo seco, desodorante, e estávamos bem. O Kilimanjaro tem muita poeira, mas é isso. E a poeira sai facilmente com os lenços. A verdade é que mal sentíamos falta do banho: o clima é seco, faz frio à noite, sempre trocamos de roupa, então realmente não sentimos sujos.
- Expectativa: pensei que ficaria suja e precisaria urgentemente de um banho todos os dias
- Realidade: o clima seco e frio à noite, combinado com os lenços umedecidos (dica: tome o “banho” antes de vestir o pijama, assim o pijama está sempre fresco), deram conta do recado. A única vez que comecei a me sentir desconfortável foi no último dia, pois passamos por uma floresta super úmida. Mas era o mesmo dia da chegada no hotel.

Não conseguir chegar ao cume
Eu tive altos e baixos – antes e durante a viagem – entre “com certeza consigo” e “nossa, acho que é muito para mim”. Nossa mente nos prega peças. Mesmo que a caminhada não seja uma competição – meu grupo era grande e, portanto, bem diversificado, com uma turma mais rápida e eu sempre ficava no final, na “turma do fundão” – começamos a nos questionar. Antes de ir, eu sempre pensava: “imagina se eu for até lá e não conseguir chegar ao cume? Que decepção!”. E quando coloquei meus pés lá e percebi a tarefa que nos aguardava, nos dois primeiros dias tive medo de não conseguir. Mas aos poucos fui me acalmando, e no final do segundo dia aceitei que estava ali para aproveitar o momento. Chegamos ao acampamento a 3600 metros acima das nuvens, maravilhoso. A cantoria e a dança da equipe me emocionavam muito, e percebi que estava satisfeita assim. Já estava sendo uma experiência maravilhosa, totalmente nova para mim, estava aproveitando ao máximo. E se não conseguisse, levaria para casa memórias maravilhosas mesmo assim.
- Expectativa: ansiedade de não conseguir chegar ao cume
- Realidade: essa ansiedade atrapalha, e precisamos simplesmente aceitar que é possível não conseguir. O mal de altitude pode afetar qualquer um, então é importante aproveitar os momentos individualmente e não focar apenas em chegar ao cume.

Dinheiro
Há alguns anos eu queria fazer a viagem ao Kilimanjaro, e toda vez que tentava pesquisar preços, acabava desistindo rapidamente. É uma viagem cara. Não é algo que tenha uma alternativa. Não é possível fazer de forma independente: é necessário contratar uma agência com guias especializados. A taxa para entrar no Parque Nacional do Kilimanjaro já assusta, são 800 dólares por pessoa. E toda expedição, por menor que seja, requer uma estrutura. Além dos guias (um a cada duas ou três pessoas), há a equipe de carregadores (que além de carregarem nossas bagagens também levam toda a infraestrutura do acampamento, como comida, barracas, mesas, cadeiras, banheiros e muito mais) e a equipe de apoio no acampamento (que purifica a água, o cozinheiro, o responsável pela limpeza dos banheiros, entre outros). E tudo isso tem um custo. Se encontrar algo muito mais barato, desconfie: pesquise quanto a empresa paga aos carregadores, se eles fornecem todas as refeições (surpreendentemente, há operadoras de turismo no Kilimanjaro que não alimentam adequadamente seus funcionários nem providenciam roupas adequadas para que façam a expedição com conforto mínimo), e pergunte também sobre a qualidade da comida. Vimos algumas pessoas comendo lanches frios no caminho (nós tínhamos comida quente todos os dias), e é preciso de MUITA energia e MUITAS calorias em todos os dias da expedição.
Verifique também a duração da expedição, o ideal é de 6 ou 7 dias (a minha foi de sete). Quanto mais dias, melhor. Se for muito barato por ser apenas 4 ou 5 dias, há grandes chances de você não se aclimatar e passar mal na subida. O barato sai caro!
Quando estamos pagando por toda a parte terrestre para a agência, é realmente pesado e nos perguntamos por que é tão caro. No entanto, uma vez lá, percebemos o trabalho que é levar toda essa equipe para a montanha e garantir o bem-estar de todos.
A minha agência, a Morgado Expedições, trabalha com a Everlasting Tanzania como operadora, e o serviço de ambas foi impecável. Meu dinheiro foi muito bem empregado. A parte terrestre (você pode ver todos os detalhes aqui) custou 4300 dólares. Porém, somando a caixinha para os carregadores, as passagens aéreas, os equipamentos que precisamos comprar e alguns extras (como alimentação no hotel antes e depois da expedição), gastamos cerca de 6 mil dólares por pessoa.
- Expectativa: a viagem mais cara da vida, mais um motivo para ter que chegar ao cume a todo custo
- Realidade: infraestrutura perfeita, comida deliciosa, suporte integral de guias e cozinheiros, sensação de acolhimento. Vale a pena guardar esse dinheiro e abrir mão de outras viagens se é algo que te anima. Não deixe para mais tarde se consegue economizar esse dinheiro agora.
Preparação física
“E aí, você está preparada fisicamente?”, “Que tipo de treino você está fazendo?”, essas foram as duas perguntas que mais ouvi ao contar para as pessoas que iria para o Kilimanjaro, então acho que é uma das maiores preocupações de quem pensa em fazer a viagem. Não há dúvida de que é preciso estar acostumado com uma rotina de exercícios
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